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13/06/2017

Mulherio das Letras – Diário de Desbordo

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Maria Valéria Rezende, me mandou um recado via facebook de que tinha algo para conversar comigo. E, sabe como é, toda mulher tem suas 1.985 tarefas diárias em média, eu iria naquela tarde, adiei para a semana seguinte, e lá se foi na semana seguinte mais um dia, e chegou um novo recado de que tinha certa urgência. E se ela chama, e diz que tem certa urgência, é de mandar a semana esperar e ir até o seu jardim encantador para ouvir do que se trata. E naquela lista das coisas boas e belas da vida, pelo menos na minha, tem o item ouvir Valéria Rezende. Ela gosta de falar, eu gosto de ouvir, e assim as horas que se cuidem de nos apressar ou o tempo se desorienta e para!

      E então, em meio as plantas do jardim e um beija flor  fazendo espetáculo de revoada e equilibrio, ela contou que há tempos em conversas por aí entre o mulherio das letras, surge sempre a necessidade sentida por todas, de reunir o maior número de mulheres para discussão de temas de interesse, longe dos formatos habituais de feiras, festivais, entre outros, onde não houvesse curadoria, mesas formadas por nomes de destaque, entre outras coisas, e que principalmente garantisse mais espaço as mulheres. Algo que seria assim, uma ampliação dessas conversas que já acontecem nos bares, calçadas, e outros espaços durante esses grandes e reconhecidos eventos literários. Seria mais um evento? Não. Seria com uma “metodologia” algo próximo aquela usada na educação popular, o diálogo, a busca dos consensos, e as formas de ultrapassar os dissensos para se chegar a novas ideias, caminhos, e construções.

      A essa altura da conversa, eu já havia perdido de vista o beija-flor, e os olhos já estavam brilhando eu sei, já envolvida pela ideia. Quebrar as normas, romper barreiras, reunir o mulherio das letras em uma  grande conversa, grande em todos os sentidos?! Eu só queria saber qual a parte que me caberia fazer para ajudar a tornar isso tudo uma realidade. E se o foco principal da ideia era realizar o encontro em João Pessoa, Paraíba, o convite era para que eu participasse na equipe de organização e também colocando a OSC que coordeno como parceira, para que em casos necessários o mulherio tivesse uma personalidade jurídica representativa.

      Tudo acertado. E dada as explicações que a OSC que criei e que coordeno atualmente, é também do gênero feminino, e estava em processo de refazer-se (exercício diário que toda mulher conhece!) Nova marca colorida, um presente elaborado por uma jovem designer, e um novo nome fantasia. Porque sempre tem um tempo que é preciso mudar as cores da casa, do mundo, mudar o rumo, mudar. Logo, a ideia do encontro do mulherio das letras, seguiu na mesma direção de busca de novos tempos.

      E por onde começar? A parceria com a Secretaria de Cultura da Paraíba, estava confirmada, porque o lado feminino do poeta que está secretário, havia escutado todos os planos de Valéria Rezende. E o terceiro passo, agora que já tinha duas parcerias, era convocar o mulherio. Como fazer isso? Simples. Naquele mesmo dia Valéria criou um grupo no facebook, o Mulherio das Letras 2017, e convidou várias mulheres, que foram convidando outras e mais outras… Em menos de um mês o que era um grupo de facebook para troca de ideias, se transformou em um movimento. O Mulherio das Letras é hoje um movimento.

      E somos muitas! E em cada uma de nós somos tantas. E nessa construção coletiva, nessa organização colaborativa para o primeiro Encontro do Mulherio das Letras, somos um rio que transborda das margens que lhes foram impostas. Onde esse rio vai desaguar? Ainda não sabemos. Sabemos do percurso, sabemos navegar e nem precisamos de bússolas porque nos basta saber do movimento das águas.

      Outras instituições foram chegando nessa parceria: a Universidade Federal da Paraíba, a Funesc – Fundação Espaço Cultural. E seguimos. Entre nós, uma faz um site, outra um programa de rádio, e outras se reúnem em suas cidades e vão desenhando essa rota, umas contam histórias, outras fazem livros, umas fazem poemas, quase todas escrevem, somos muitas, e cada vez mais! Os nossos sotaques, nosso jeito, nossos sonhos, nos identificam, e nos mostram diversas, nos tornam únicas. Um Mulherio em movimento. E um encontro marcado para outubro.

(Valeska Asfora – coordenadora da Moenda Arte e Cultura – parceiras do Mulherio das  Letras)

* Maria Valéria Rezende, escritora brasileira Estreou na literatura em 2001, com o livro Vasto Mundo. Ganhou o Prêmio Jabuti de 2009 na categoria literatura infantil com No risco do caracol, em 2013, categoria juvenil, com Ouro dentro da cabeça e em 2015 nas categorias  romance e Livro do Ano de Ficção, com Quarenta Dias.

Em janeiro de 2017, recebeu o Prémio Casa de Las Américas pelo livro Outros Cantos. A primeira articuladora do Mulherio das Letras.

* O encontro do Mulherio das Letras, vai acontecer entre os dias 12 a 15 de outubro do corrente ano, com abertura no dia 12 na Fundação Casa de José Américo e demais atividades no Espaço Cultural a partir do dia 13. A realização do encontro conta com a parceria da Secretaria de Cultura da Paraiba, Funesc, Fundação Casa de José Américo, Universidade Federal da Paraiba e a OSC Moenda- Arte e Cultura.