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07/11/2017

Começaria tudo outra vez….! Por Edileide Vilaça

Eu na defesaComeçaria tudo outra vez…

 Edileide Vilaça
Mestra em Jornalismo

Como parte do mestrado em Jornalismo pela UFPB/CCTA, foi lançada, em 2014, a primeira webrádio acadêmica/universitária da Paraíba, dentro de uma perspectiva comunitária. Um projeto pioneiro, em âmbito de mestrado, que durante toda sua primeira etapa prática, por um período de um ano(2014), contou com a participação de vários grupos da comunidade civil, posteriormente na segunda parte da experiência, desde 2015, sem interrupções até os dias atuais, está contando com o envolvimento dos alunos de graduação do curso de Rádio e TV/UFPB, por meio da disciplina de Estágio Supervisionado II.

Assim sendo, uma ferramenta que por ter sido fruto de minha pesquisa dentro do Mestrado Profissional em Jornalismo, nada mais coerente de que o CCTA se apodere deste instrumento e a utilize para o exercício prático dos alunos da graduação do curso de RTV. A perspectiva é de que esta iniciativa tenha continuidade por todos os semestres seguintes, já que os princípios norteadores das ações estão em comunhão com o programa de pós-graduação em Jornalismo e com a instituição em si, através de professores e estudantes que já se incorporaram ao projeto da Webrádio Porto do Capim.

Essa experiência apresenta resultados satisfatórios que configuram um quadro favorável ao futuro das atividades acadêmicas elencadas. Passamos por todas as etapas, passos que percorreram desde escolher os modelos e formatos dos programas aprovados, elaborar e incorporar a grade de programas, definir horários, duração e recursos multimídia necessários para que a programação permanecesse na rede. A programação plural contempla todos os nichos e segmentos socioculturais e ambientais, a fim de promover uma interatividade coletiva que agregue vozes a valores em comum, no sentido de difundir a democratização do pensamento e da ação.

Após dois anos de vivência e observação, conclui meu trabalho entregando ao PPJ/CCTA/UFPB o resultado da minha pesquisa não só em formato de dissertação, mas principalmente, oferecendo, o que considero, como o nosso  maior legado dessa pesquisa que tive a honra de ter como orientadora a professora doutora Olga Tavares, a ferramenta das Webrádio Porto do Capim, por ter concluído que sob o comando da fonte criadora, constatei maiores perspectivas de longa existência se a comunidade acadêmica for a cada semestre protagonista desse processo que é permanente e contínuo, pois, percebeu-se junto ao convívio da comunidade civil, vários fatores alheios e/ou pertinentes à disponibilidade, agenda e compromisso desses grupos que não são oriundos da academia. Apesar dos mesmos terem passado por oficinas de capacitação dentro de uma perspectiva de Educomunicação, mesmo assim, continuaram apresentando sinais de certa dependência, ou seja, necessidade de se ter o permanente controle e acompanhamento de profissionais especialistas formados em jornalismo/radialismo, com domínio da ferramenta webrádio, script/roteiro, gravação e edição, controle e operação de mesa de áudio, que de certa forma, também, seriam o fio condutor, com poder e iniciativa de articulação e execução junto aos grupos não acadêmicos.

Todavia, os alunos de graduação, até por terem a base teórica que a própria universidade já oferece, por possuírem o convívio diário com o mundo da tecno-comunicação, quando vão para a prática, efetivamente para o processo de produção e o uso das possiblidades da ferramenta da webrádio, o resultado é muito mais rápido, dinâmico, ininterrupto, autônomos,  empoderados.

Essa experiência tem sido fator de inspiração para os estudantes do Mestrado em Jornalismo (PPJ/UFPB), assim como resultou em artigos em Congressos, Seminários e afins, e também já serviu de plataforma para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da então graduanda, Andréa Gisele Nóbrega, com o programa que faz parte da grade de programação desse produto de Webrádio chamado “Negrícia – Uma expressão do povo Negro no Combate ao Racismo”(CCTA/DECOM, 2015).

Em nenhum momento pensei que não iria dar certo, que não iria conseguir realizar toda a ideia e a proposta em tempo e a contento.  Todas as metas e os prazos planejados foram cumpridos. Os esforços, o cansaço, os investimentos foram compensadores porque eram envolvidos de afeto. Agora, entendo quando diziam que quando se entra em uma pesquisa acadêmica, é preciso se apaixonar pelo seu projeto. E houve o tempo inteiro muita paixão de minha parte. Acho até que era isso que movia a vontade de realização. Foi um aprendizado imensurável e inenarrável, especialmente no tocante ao convívio coletivo. O sonho era que não houvesse segregação de tribos, que essa iniciativa fosse da teoria à prática uma ferramenta verdadeiramente democrática, como uma mandala, onde grupos, sejam oriundos da comunidade acadêmica e/ou civil, ocupassem o mesmo espaço, cada um dentro da sua linha de atuação, e aproximando mundos, ou seja, um produto vivo, girando feito roda gigante, num movimento cíclico, sem constrangimentos aos novatos e nem sentimento de posse dos que já estavam. No fim, tudo nesta vida é uma soma. Só assim pode-se pensar em construção coletiva, nunca individual, e muito menos segregada. Foi assim que tudo foi realizado, por meio de uma grande soma de vários atores, inclusive alguns na invisibilidade.

A essência do projeto, antes mesmo de reconhecê-la em Paulo Freire, no âmago, já era libertária, preservando o livre fazer, sem se sentir preso às estruturas e formas, e nem muito menos a conteúdos fechados e preestabelecidos. O livre criar e livre falar. Havia só a vontade de ter os protagonistas envolvidos nesse processo como um ser em pleno estado de inspiração e superação.

Quando falei para a banca de seleção do mestrado que não concebia conhecimento trancado entre os muros acadêmicos, o que eu queria era exatamente isso que foi realizado. Ao mesmo tempo em que houve o mergulho em prazerosas leituras em busca da base teórica, houve a possibilidade de compartilhar um pouco dos próprios conhecimentos pessoais de toda uma grande experiência prática acumulada ao longo de mais de duas décadas na prática do jornalismo. Talvez, exatamente por estar ingressando em um mestrado profissional, existiu esse sentimento de estar tão à vontade de trilhar os caminhos que foram trilhados aqui, tentando a máxima aproximação do que o mestrado se propunha como programa.

Foi uma pesquisa desenvolvida ao longo de dois anos que exigiu muito fôlego, dedicação e experimentação junto aos grupos envolvidos. E que essa experiência pioneira na UFPB, desafiadora e atual, no meu entender, de relevância significativa no contexto radiofônico do século XXI, quando o rádio se reconfigura, se adapta às práticas e processos no campo da comunicação no cenário atual, seja disponibilizada como fonte de pesquisa para novos estudantes e pesquisadores desta nova era da comunicação digital, sob a perspectiva de uma útil e criativa ferramenta de radiojornalismo comunitário na busca de inclusão social e exercício da cidadania no ciberespaço.

E para terminar, uma certeza: “começaria tudo outra vez se preciso fosse…” (Gonzaguinha).